Educação Integral: a vacina contra o vírus

“Juntos, procuremos encontrar soluções, iniciar sem medo processos de transformação e olhar para o futuro com esperança. Convido a cada um para ser protagonista desta aliança, assumindo o compromisso pessoal e comunitário de cultivar, juntos, o sonho dum humanismo solidário, que corresponda às expetativas do homem e ao desígnio de Deus.”

Papa Francisco, Mensagem para o lançamento do Pacto Educativo

Com estas palavras, no dia 12 de setembro de 2019, o Papa Francisco, concretizando os desejos expressos na carta encíclica Laudato si’, convocava-nos para um Pacto Educativo Global, ao qual, pela situação inesperada que vivemos, a natureza nos impeliu desde já.

Como escolas católicas e projetos educativos inovadores, diante dos desafios da COVID-19, procuramos dar uma resposta pedagógica de qualidade a todos os nossos alunos e alunas, estruturando um Ensino a Distância (E@D), acompanhando as famílias, estreitando laços entre toda a comunidade educativa, facilitando apoios materiais e financeiros, desenvolvendo pedagogias diferenciadas, demonstrando que é possível um pacto de confiança entre Escola e Família, entre Alunos e Educadores, entre a Sociedade e a Igreja. Por isso, diante de emergências sociais locais, muitas escolas católicas, não ficando indiferentes, mobilizaram os seus recursos para apoiar iniciativas de solidariedade: emprestando pavilhões, construindo viseiras, apoiando os profissionais de saúde, desenvolvendo campanhas solidárias, identificando necessidades e denunciando injustiças.

O Pacto Educativo Global foi adiado para outubro de 2020, mas já está a acontecer na forma como cada escola católica procura criativamente dar resposta aos novos desafios de hoje, mantendo vivo e atual o princípio da educação integral, na forma como educa. O cancelamento das atividades letivas não significou o congelamento dos diferentes projetos educativos, ou da atenção à totalidade da pessoa, nem muito menos do cuidado pastoral. Pelo contrário, as escolas católicas não só reinventaram os seus horários e a sua forma de ensinar, como também deram continuidade à educação da pessoa na sua totalidade, mantendo viva a sua missão.

Inúmeras experiências e variados exemplos, mostram como é possível educar para a integridade, à distância, não apenas pelas atividades de enriquecimento do currículo, mas, sobretudo, pela forma como se ensina. Hoje, mais do que nunca, os nossos limites estão a descoberto e temos de aprender a lidar com eles. Contudo, também, hoje, mais do que nunca, um conjunto de novas possibilidades nos inspira um renovado estilo de vida, um discernimento atento e a urgência de estabelecer relações que edifiquem uma “casa comum”. A escola tem de se humanizar, a nossa vida tem de se humanizar, os nossos gestos têm de ressuscitar.

O desejo profundo de atender ao todo da pessoa e de a educar integralmente para uma nova aliança, passa, necessariamente, por uma redescoberta individual da humanidade que nos é dada e pela comunidade global que somos chamados a construir. Tal como o vírus não faz aceção de pessoas, também os nossos projetos educativos, a partir da sua inspiração evangélica, não devem educar pessoas elitistas, cheias de si, exclusivamente preocupadas com a sua própria sobrevivência (egolatria). Nesta luta social contra o vírus da fome, da solidão, da distância, da pobreza, da angústia, precisamos de reforçar os anticorpos gerados pela justiça, pela partilha, pela responsabilidade fraterna, pelo bem, pelo serviço, pela cultura de uma educação ecológica integral. O exame final que nos espera a todos não é aquele que nos permite aceder ao sucesso ou a um estilo de vida economicamente ambicioso, mas o exame de como pusemos a nossa humanidade ao serviço da Humanidade.

O vírus atacou a nossa confiança e fechou-nos na insegurança das nossas fragilidades. Todavia, um novo pacto é possível: uma nova aliança que eduque pessoas humanamente e promova estilos de vida justos e equilibrados, no respeito por todos, sobretudo, dos mais pobres. Por isso, a educação integral, mais do que um princípio orientador, poderá tornar- se na vacina contra todos os vírus opressores da humanidade adormecida, que foi feita à imagem e semelhança de Deus.

Essa é a verdadeira vacina contra o vírus: uma escola inovadora que educa para a Cidadania Global, educadores comprometidos socialmente com a transformação do mundo, uma sociedade livre que respeita o outro e a natureza.

 Pe. Carlos Carvalho sj.

Caldinhas, 5 de maio de 2020

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