O educador cristão, um guia no Caminho – Nota Pastoral

1. Educar é acompanhar. O educador cristão acompanha aqueles que lhe são confiados e orienta-os para saírem de si mesmos e se abrirem à vida, aos outros, à fé, ao amor e à esperança. Assim, poderão alcançar o seu pleno desenvolvimento e contribuir para um mundo mais humano e fraterno. À luz do Evangelho, podemos considerar o educador cristão como uma imagem e um colaborador de Jesus, o Bom Pastor, que nos acompanha com a graça e a bondade, todos os dias da nossa vida, para ultrapassarmos os “vales tenebrosos” e seguir os caminhos da retidão     (cf. Sl 23/22, 6). Em Jesus se encontra a verdadeira fonte de luz e de alegria, como Ele próprio prometeu: “Eu sou a luz do mundo, quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8, 12). Como guia cristão, o educador procura, pois, amadurecer a experiência pessoal do encontro, do olhar e do seguimento de Jesus, Caminho e Vida.

A designação “guia-educador” realça, portanto, a dimensão da experiência pessoal, a dinâmica do caminho e do crescimento, a presença próxima e o acompanhamento. Contorna, assim, a imagem do “professor”, sentado na “cátedra” do saber, ou a de um pedagogo centrado apenas nos métodos da pedagogia. O guia cristão centra-se na pessoa do educando e ajuda-o a sair do seu individualismo e a abrir-se a Deus e aos outros. À luz do Evangelho, podemos realçar algumas características que lhe são peculiares.

2. Acolher a riqueza pessoal do educando. Antes de mais, aquele que educa à maneira de Jesus cultiva um olhar de estima e apreço pela riqueza única da personalidade de cada educando e uma atitude solidária e cooperante no seu pleno desenvolvimento. Como afirma o Papa Francisco: “Numa civilização paradoxalmente ferida pelo anonimato e, simultaneamente, obcecada pelos detalhes da vida alheia, descaradamente doente de morbosa curiosidade, a Igreja tem necessidade de um olhar solidário para contemplar, comover-se e parar diante do outro” (EG 169). O educador precisa, portanto, de ter estima e consideração para com cada um dos seus educandos. Se não possui essa propensão, tal significa que estará vocacionado para outras tarefas que não a educativa. 

3. Educar com amor e para o amor. Todos desejam amar e ser amados. Educar é tocar o coração e motivar a vontade, sem deixar de esclarecer a inteligência para fundamentar a razoabilidade e a sabedoria do caminho da verdade e do bem. O coração mexe com a vontade e desperta interesse em conhecer e, por isso, o educador esforça-se por tocar o coração dos educandos para os conduzir à plenitude de vida. Realmente, o caminho que propõe é estreito, mas conduz à vida, diz o Evangelho (Mt 7, 14). A tentação de seguir o caminho largo, sem orientações nem regras, sem exigência nem responsabilidade, parece mais fácil e agradável, mas empobrece em vez de conduzir ao pleno desenvolvimento. Para que os educandos descubram e se decidam livremente pelo caminho da plenitude da vida, o educador precisa de os acompanhar com dedicação, inteligência e afeto. Atualmente, é necessário ensinar a amar, pois o individualismo e o egoísmo marcam o nosso tempo e a nossa cultura. Mostram-se como o caminho largo do êxito e das vantagens pessoais, mas fecham a pessoa em si mesma e no seu bem individual. Ensinar a amar será, assim, libertar os educandos do individualismo, despertando-os para o bem comum e para uma fraternidade aberta a todos, sem fronteiras geográficas, culturais ou religiosas.

4. Envolver para educar juntos. Numa cultura aberta e sujeita a múltiplas e complexas influências, a educação frutuosa só é possível com a colaboração conjugada de todas as instituições ou associações implicadas na Educação: Família, Escolas e outras instâncias da Igreja e da sociedade civil (movimentos católicos, associações culturais e desportivas, etc.). Relembramos as palavras da mensagem do Papa Francisco, ao lançar o Pacto Educativo Global (12 de setembro de 2019): “nunca como agora houve necessidade de unir esforços numa ampla aliança educativa para formar pessoas humanas maduras, capazes de superar fragmentações e contrastes e reconstruir o tecido das relações em ordem a uma humanidade mais fraterna (…). Vivemos uma mudança epocal não só cultural, mas antropológica, que gera novas linguagens e descarta, sem discernimento, os paradigmas recebidos da história (…). Ora, cada mudança precisa de uma caminhada educativa que envolva a todos. Por isso, é necessário construir uma “aldeia da educação” onde, na diversidade, se partilhe o compromisso de gerar uma rede de relações humanas e abertas”.

5. Esta aliança educativa apresenta-se em profunda sintonia com o caminho sinodal que a Igreja se esforça por seguir na fidelidade ao Evangelho e às características da nossa cultura. Neste contexto, o educador cristão é chamado a acompanhar o seu grupo, fazendo-se presente e estando disponível para animar a participação concertada dos vários intervenientes da Educação. Numa cultura globalizada e complexa, alcançaremos melhor os frutos desejados se os educadores cristãos trabalharem unidos e conjugarem os seus esforços, sem se isolarem no seu grupo ou na sua área pastoral.

É este também o desafio na preparação e vivência da Jornada Mundial da Juventude, que é um convite a tomar parte num movimento de saída apressada ao encontro do outro, a exemplo de Maria («Maria levantou-se e partiu apressadamente» – Lc 1, 39). Uma “pressa boa” que, nas palavras do Papa Francisco, nos “impele sempre para o alto e para o outro” (mensagem para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude 2022-2023).

Façamos juntos o caminho da Educação.

Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé 

Dia de S. Vicente de Paulo

Lisboa, 27 de setembro de 2022

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