Competências sociais – Uma reflexão de António Estanqueiro no regresso às aulas

O início de um novo ano letivo é uma boa oportunidade para refletir sobre a educação e a responsabilidade dos educadores. Crianças e adolescentes precisam de desenvolver competências (conhecimentos, capacidades e atitudes) para enfrentar os grandes desafios do presente e do futuro.

Há competências de natureza muito variada. Destacamos a importância das competências sociais, alicerçadas em valores, que permitem aos jovens interagir de forma saudável com os outros em diferentes contextos: na família, na escola, na comunidade e, mais tarde, na vida profissional.

Empatia, comunicação e cooperação

Nenhuma teoria sobre competências na área das relações interpessoais é universalmente aceite. Apesar das divergências, muitos investigadores consideram essenciais três competências, estruturalmente interligadas e complementares: a empatia, a comunicação assertiva e a cooperação.

O que caracteriza, em síntese, cada uma destas competências sociais?

A empatia consiste em colocar-se no lugar dos outros para compreender as suas perspetivas, as suas motivações e os seus sentimentos. Sinal de sabedoria do coração humano, a empatia é alimentada pela escuta ativa e manifesta-se em palavras e gestos de compreensão, sem julgamentos precipitados. Ela combate a indiferença, diminui o egocentrismo, aproxima as pessoas e fortalece os laços afetivos. Abre portas à compaixão e à solidariedade.

A comunicação assertiva é a chave das relações gratificantes. A comunicação eficaz implica expressar ideias e sentimentos, com clareza e honestidade, usando um estilo assertivo ou afirmativo (não passivo nem agressivo). O bom comunicador revela autoestima e autoconfiança. Respeita-se a si mesmo e respeita os outros. Sabe escutar com atenção, mesmo quando discorda do seu interlocutor. É capaz de dizer “não” a pedidos ou propostas indesejáveis. Com autocontrolo, recorre ao diálogo e à negociação para resolver de forma pacífica conflitos relacionais.

A cooperação concretiza-se no trabalho em equipa. É a união de esforços para atingir objetivos comuns. Quem sabe cooperar, partilha ideias, valoriza o contributo dos outros elementos do grupo e cumpre com responsabilidade as suas funções. Sob a coordenação de um bom líder, uma equipa coesa é mais do que a soma dos seus elementos. A cooperação solidária e tolerante, baseada na confiança mútua, supera o individualismo e a competição agressiva. Sem cooperação, ninguém vai longe. Cooperando, todos ganham.

Papel da educação

As competências sociais não são inatas. Adquirem-se e aperfeiçoam-se através da educação, desde cedo, na família e na escola.

A família é insubstituível na educação. Isto exige que os pais sejam bons modelos de comportamento, prestando atenção ao que dizem e fazem nas suas interações sociais. O que se aprende na família deixa marcas para sempre.

Aos professores pede-se que promovam intencionalmente o desenvolvimento das competências sociais dos alunos, dentro e fora das aulas, aproveitando os conteúdos programáticos das disciplinas que lecionam e as atividades extracurriculares que coordenam. A aprendizagem consciente destas competências aumenta o autoconhecimento e a autoestima, melhora a qualidade das relações interpessoais, previne comportamentos de risco (por exemplo, indisciplina, violência e dependências) e exerce influência positiva no sucesso e no bem-estar dos alunos.

É missão da escola investir na formação integral dos alunos, desenvolvendo com equilíbrio as suas competências cognitivas, sociais e emocionais. Evidentemente, nenhum aluno consegue adquirir na escola todas as competências desejáveis, técnicas e humanas. Espera-se dos professores que preparem os jovens para a aprendizagem autónoma e contínua.

Em tempos de mudança e incerteza, a melhor atitude de qualquer pessoa é manter a mente aberta para aprender na interação com os outros. Ao longo de toda a vida.

António Estanqueiro

Professor e Formador

Publicado originalmente em Ecclesia

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