II Congresso Escolas Católicas – “O ensino em Portugal não é só público”

P. Carlos Carvalho sj

Ao serviço do Bem Comum, a Igreja e as escolas católicas, desinstaladas pelo Papa Francisco, desejam promover um pacto educativo global que englobe todos os parceiros, com base em sete compromissos, dos quais cinco concernem a pessoa.

“O ensino em Portugal não é só público”. A frase não é minha, mas de D. António Augusto Azevedo, Presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e da Doutrina da Fé, na abertura do II Congresso das Escolas Católicas, em Fátima, no passado dia 10 de outubro. E foi reiterada pela intervenção do Dr. João Gonçalves, Diretor da Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares, que no final dos trabalhos reconheceu o enorme contributo das Escolas Católicas para a qualidade do Ensino em Portugal.

Ao serviço do Bem Comum, a Igreja e as escolas católicas, desinstaladas pelo Papa Francisco,  desejam promover um pacto educativo global que englobe todos os parceiros, com base em sete compromissos, dos quais cinco concernem a pessoa: Colocar a pessoa no centro de cada processo educativo; Ouvir as gerações mais novas; Promover e reconhecer os direitos das mulheres e a igualdade e favorecer a sua participação na educação; Responsabilizar a família no processo da educação; Educar para o acolhimento, incluindo os mais vulneráveis e marginalizados; Renovar a economia e a política; Cuidar da casa comum – protegendo os seus recursos, adotando estilos de vida mais sóbrios e visando energias renováveis e respeitosas do meio ambiente.

Durante dois dias de partilha e reflexão, as cerca de 85 escolas congregadas, de um total de 122 escolas católicas que existem no nosso país, procuraram aprofundar o binómio Identidade e Pacto, transformado pelo D. José Tolentino Mendonça, na sessão de abertura, no binómio vocação e missão. A partir da sua identidade evangélica, a escola católica deseja promover um diálogo plural, contribuindo para um pacto educativo de sentido que promova a libertação integral da pessoa.

Destes dois dias de Congresso sobre a “Identidade e pacto, num mundo global”, em que tive o gosto de participar, retenho três ideias chave:

a) a identidade permite o diálogo: a memória agradecida das nossas raízes permite-nos contemplar o horizonte sem uma miopia ideológica. Como dizia a aluna Marta Gonçalves, no terceiro painel, ser católico não é dizer que tenho fé, mas viver segundo os princípios de Jesus, imitando os seus gestos. Por isso, para viver num mundo cada vez mais global, como referiram o casal Carlos Goñi e Pilar Guembe, é preciso não perder a identidade, educando através do exemplo. Dialogar exige reconhecer na escola um espaço de reconstrução do político, numa aprendizagem de viver num novo comum, feito de diferença, de acolhimento dos mais vulneráveis e da hospitalidade ao estrangeiro, como nos propôs o segundo painel. A diferença não dilui a identidade nem impede o diálogo, mas é possibilidade de encontro, de escuta e de redescoberta do sentido profundo de tudo o que fazemos enquanto educadores.

b) a importância das humanidades na construção do mundo: nem todos os nutrientes são bons, não basta promover um pensamento crítico, é preciso propor um caminho de sabedoria. Para propor um sentido não podemos ficar na superficialidade de frases feitas ou na incerteza de análises simplistas e preconceituosas da realidade. Como educadores temos que mergulhar no nosso contexto para resgatar o ser humano de amanhã da escravidão do útil e do engano entediante do sempre novo, tal como nos propôs a Professora Isabel Capeloa Gil, Reitora da Universidade Católica Portuguesa. Derrubar os silos educativos que impedem os saberes de dialogar, promover uma consciência ética e a capacidade criativa. As humanidades nem são um antídoto nem uma condenação ao desemprego, mas seiva fértil que numa cultura de fronteira transforma a escola num lugar de encontro entre a memória e aquilo que os novos residentes trazem. Como nos recordava o Professor João Duque, as humanidades ajudam-nos a combater o ideal do ser humano sempre vencedor, ajudam-nos a tomar consciência da força da nossa vulnerabilidade. Como educadores temos que ajudar os órfãos digitais do nosso tempo a não perder os valores que os podem ajudar a manter o equilíbrio na incerteza da vida.

c) a diferença entre a educação e o ensino: há uma diferença entre promover o desenvolvimento integral do aluno que temos nas mãos e manipular o seu pensamento ou condicionar a sua consciência. Aos pais compete educar, à escola ensinar. A liberdade de ensino deve pressupor a escolha livre dos pais e um pacto que coordene as diferentes liberdades dos distintos intervenientes da gramática escolar, como nos propôs o Professor Mário Pinto, numa sentida homenagem de reconhecimento público por tudo o que fez pela liberdade e pelo ensino católico no nosso país. Tal como nos foi proposto pelo primeiro painel, a promoção da mulher não é uma obrigação ideológica, mas uma questão de justiça. Assim como foi possível pôr em diálogo as diferentes religiões no final da tarde do primeiro dia, também é possível pôr em diálogo a diferença, sem impor ideias ou conceções partidárias. Como referia o professor Alfredo Teixeira, na síntese final, em perspetiva emergente, a escola deve recriar o seu estilo educativo repensando a íntima relação entre o conteúdo e a forma.

25 anos podem parecer poucos, mas quando olhamos a história e vemos os seus rostos, nessa viagem cronológica proposta pelo Jorge Cotovio, Secretário-Geral da APEC, percebemos que a sua pequenez temporal nos revela a grandeza do carácter e a generosidade da resposta. Muito obrigado à APEC por tudo o que faz pelas Escolas Católicas, porque, definitivamente, o “ensino em Portugal não é só público” e, se quer ser livre e democrático, nunca o poderá ser.

in Ponto SJ

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